Morre Viriato Mendes, técnico campeão com o Fefecê em 1994
José Carlos Viriato Mendes faleceu aos 79 anos
5/14/20255 min read
Montagem do Jornal do Esporte, em reportagem especial veiculada em 2016
Morreu nesta quarta-feira, 14, umas das figuras mais icônicas da história do Fernandópolis Futebol Clube. José Carlos Viriato Mendes foi por diversas vezes treinador da Águia. A mais especial delas, no título da Segundona de 1994.
Viriato se recuperava de uma cirurgia. O velório deve ocorrer nesta quinta-feira, 15, a partir das 8h, com o sepultamento previsto para as 13h30.
Veja a matéria em homenagem a Viriato publicada em maio de 2016
Senhor Fefecê! Os 35 anos de história de Viriato e o Fernandópolis Futebol Clube
O Fernandópolis Futebol Clube (Fefecê) celebrará seu 55º aniversário em 15 de novembro próximo. Apesar de ser um clube relativamente jovem, sua trajetória é marcada por figuras importantes dentro e fora dos gramados. Entre atletas, técnicos e dirigentes notáveis, José Carlos Viriato Mendes se destaca como uma figura atemporal. Ao longo dos últimos 35 anos, ele comandou o Fefecê em mais de uma dezena de ocasiões, acumulando aproximadamente 400 partidas.
Durante suas passagens, Viriato liderou equipes que encantaram a torcida com um futebol de qualidade e garra, culminando na conquista do Campeonato Paulista da Segunda Divisão de 1994. Além dos títulos, Viriato foi fundamental no lançamento de inúmeros atletas que não apenas defenderam o Fefecê, mas também geraram recursos financeiros para o clube.
O Início e uma Dura Derrota
"Antes de treinar a equipe principal, passei quatro anos (1980-1983) comandando o time júnior. Naquele período, participei da revelação de vários atletas que ajudaram o profissional e aprendi muito com o técnico José Carlos Fescina. Após uma grande campanha com os juniores, fui convidado a treinar a equipe de cima, e assim começou minha jornada."
Logo em seu primeiro ano, em 1984, a classificação para o quadrangular final que definiria os dois acessos à primeira divisão do Campeonato Paulista ficou muito próxima. No entanto, uma derrota em casa por 1 a 0 para o Tanabi, numa quarta-feira à noite – uma coincidência com os confrontos recentes contra Barretos e Novorizontino –, frustrou as chances de classificação e se tornou, segundo o treinador, sua maior decepção na carreira.
"Aquela era a chance de subir para a primeira divisão no meu primeiro ano, mas infelizmente uma sequência ruim nos deixou fora da fase final."
Apesar da frustração inicial, a trajetória de Viriato no Fernandópolis continuou, e nos anos seguintes o clube se manteve entre as melhores equipes da extinta Divisão Intermediária, atual Série A-2. "Além do meu trabalho, contei com a ajuda de muitos atletas como o goleiro Betinho, Soares, Bellini, Bereco e outros que eram minha voz dentro de campo, ajudando a organizar e manter a equipe unida, mesmo com um treinador inexperiente."
A Toalha
Em meio ao reconhecimento pelo trabalho árduo e pelas vitórias, Viriato também é conhecido por suas manias e superstições que, verdadeiras ou não, alimentam sua lenda. Enquanto o sal grosso atrás dos gols e as noites de "trabalho" podem residir no imaginário dos torcedores, um amuleto é inegavelmente real: a toalhinha.
Presente de Dona Nice, uma benzedeira vizinha, a toalha acompanha Viriato desde sua primeira partida como técnico profissional. "Eu estava saindo de casa quando a Dona Nice me chamou e entregou a toalha dizendo ‘leva que vai dar sorte meu filho’. Como mal não ia me fazer, acabei levando e ganhamos o jogo. Depois disso nunca mais larguei a bendita toalha." O apego ao amuleto era tão grande que, certa vez, após um jogo em Araçatuba, ele fez questão de retornar para buscá-la. "Eu esqueci a toalha no banco de reservas naquele dia. Fiz o motorista do ônibus voltar e o zelador do estádio acender as luzes para pegar a toalha de volta. Ainda bem que consegui recuperá-la."
O Timaço
Ao longo dos anos, Viriato comandou elencos diversos, cada um com suas particularidades e conquistas. Além das equipes do início de sua carreira e a campeã de 1994, que ocupam um lugar especial em seu coração, o time de 1989, famoso pela classe do meia Heleno, é o que mais o agradava em termos de futebol.
"O mais curioso é que aquele era um time totalmente dividido. Tínhamos o grupo dos pratas-da-casa, dos cariocas e dos outros atletas. Fora de campo ninguém conversava um com o outro, mas dentro dele era lindo de se ver. Infelizmente, o acidente do Heleno nos tirou um acesso que era praticamente certo."
A Consagração
Após o título de 1979, anos na divisão intermediária e a reestruturação das competições pela Federação Paulista, o Fernandópolis se viu novamente no quarto nível do futebol estadual. A equipe e a cidade não estavam acostumadas com essa divisão, o que conferia ao time de 1994 uma pressão adicional para ascender rapidamente. E a conquista veio de forma emocionante.
A equipe precisava superar o Capivariano por quatro gols de diferença em relação à Internacional de Bebedouro e torcer por uma derrota do Velo Clube contra o já eliminado Jabaquara. E, seja pelo mérito da toalha ou não, o improvável aconteceu.
"A combinação de resultados era complicadíssima, mas naquela semana o Arara me encontrou na porta do estádio e disse: ‘Viriato, vamos ser campeões’. O engraçado é que, juro por Deus, em nenhum momento daquela semana deixei de acreditar no título. Estava muito tranquilo que na semana seguinte estaríamos com a taça." E a previsão se concretizou.
"Quando soube no vestiário que os outros resultados tinham acontecido, senti uma emoção que sinceramente não sei como explicar. Aquele foi, com toda a certeza, o momento mais feliz de toda a minha carreira."
Trabalho com a Base
Em 2016, após oito anos afastado do futebol, Viriato retornou ao Fefecê para concluir a Série A-3 com o time profissional e, posteriormente, assumir a coordenação da categoria de base, visando a montagem da equipe para a Segundona do ano seguinte.
Para Viriato, a equipe de 1994 serve como modelo a ser seguido. "O grande mérito daquela equipe não é apenas o título, mas também a revelação de muitos atletas que geraram capital para o clube. A base tinha um trabalho tão forte naquela época que fomos campeões Sub-20 invictos e vários atletas tiveram participações de destaque no time de cima. Precisamos aproveitar a disputa da Segundona no ano que vem e fazer dos garotos da casa uma base sólida para a competição. Se o torcedor tiver confiança e acreditar na garotada, o Fernandópolis voltará a trilhar um caminho sustentável."
O Futebol Ensina...
"O futebol me ensinou como conduzir a vida. Nele, vivemos sob pressão constante, e saber tomar as decisões certas em momentos difíceis é essencial na nossa vida. E isso o futebol me proporcionou. Valores como honestidade, ética e respeito são coisas que eu não poderia aprender de maneira mais perfeita que não fosse pelo futebol."